sábado, 13 de abril de 2019

Murilo Mendes

REVELAÇÃO
Quando me inclinei sobre a água, a estrela saíra,
O parque elaborando curvas a seu gosto.
Um rumor de pássaros fixou-se na folhagem:
As árvores cantavam o que sobrou de Mozart.
Com as garras de veludo e ferro a noite
Ao seu colo atraía as demais formas.
Então a morte começou a filtrar palavras duras
Nos pares demarcados pela sombra,
— Desfaziam-se mãos, cabeças e cinturas —,
E o pequeno verme roeu a concha da vida,
Flechou a íntima dúvida nos corações
Que batiam em ritmo de marcha, apressados tambores
A aumentar o ruído das ruínas do céu
Tombando sobre nós todos, tombando.

IMAGEM DE CRISTO
Eis um Cristo miserável, ínfimo,
Feito com remendos
De madeira, cortina e papelão,
Feito com estilhaços
De homens mortos, vivos e por nascer.
Negam-lhe o ar da ternura,
O sopro dos corações antigos
E as lonjuras da primeira infância.
Em torno dele cantam fechados,
Dançam, rindo e chorando:
Inconscientes, cantam
Entre nuvens de incenso e sarcasmos.
Pedem graças, milagres e dinheiro.
Tudo suporta a imagem,
Tudo suporta obscura.

Mas o átomo se desintegra
Para que a matéria refeita,
Regenerada,
Varrida pelo chicote dos quatro ventos,
Faça em breve ao Cristo ultrajado
Um trono de universos que se expandem
Violentamente.

(In Parábola)




Fernando Paixão

  Os berros das ovelhas  de tão articulados quebram os motivos.   Um lençol de silêncio  cobre a tudo  e todos. Passam os homens velho...