sábado, 31 de março de 2012

Carminha Gouthier


Seja louvado
Pelo muito que me dá,
por tudo que tirou,
pela neve que caiu,
pelo fogo que me lavrou.

Pela herança de solidão
que me esperava,
pelo acréscimo de solidão
que me acompanha.

Pelas mão ávidas
de estrelas,
que se calaram
submissas.

Pelos olhos que exigiam itinerários do espaço,
para fugas imprevistas.

Olhos que aceitam
as margens desnudas,
os limites tão próximos,
a réstia de sol no retângulo da mesa.

Seja louvado,

com os lábios que bendizem a pedra do moinho,
as horas trituradas.



Carminha Gouthier


Náufrago
Sobre esta praia
de areias ardentes e selvagens
me debruço;
ouvindo o lamento

dos que foram tragados
porque não acreditaram,
dos que fugiram sem esperança.

Sobre esta praia
de areias ardentes e selvagens
me levanto,
pressentindo as trombetas longínquas
do carro de ouro
que recolhe os náufragos.


Carminha Gouthier


A  cidade encantada
Sentir que estes horizontes serão sempre os mesmos
todos os dias.

Saber que para além
está o mundo grande iluminado.

Medir com a inquietude da minha aspiração
as distâncias que se desdobram infinitamente.

E a cidade encantada
vai ficando cada vez mais longe.

Bem que eu alongo os meus braços
alongo
para alcançá-la.

Alongo os meus braços inutilmente.



Carminha Gouthier

Não Te demores
Como um cego tento reconhecer
as pedras, as casas, a veste do irmão, tento reconhecer-me.

Quem é o peregrino que tropeça em si mesmo,
que país será este,
tão sem auroras?

Como um cego,
pássaro ferido, jogado não sei onde.

Sinto as horas caindo desamparadas,
sobre as areias da solidão.

E sobre as areias, sobre as águas,
sobre as nuvens caminharás.

Não Te demores,
que esta ilha é de crepúsculo e cinza ...

E eu aprendo chorando
o Cântico Novo para a Tua Chegada.

 (A Luz e o Trigo, pág. 72). 

SOBRE CARMINHA GOUTHIER





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