sábado, 1 de junho de 2024

Fernando Paixão

 

Os berros das ovelhas 

de tão articulados

quebram os motivos.

 

Um lençol de silêncio 

cobre a tudo 

e todos.

Passam os homens velhos 

(estranha caligrafia de rostos) 

mulheres vestidas igual cebolas.

 

...os meninos distraídos 

chacoalhamos os sons 

do pequeno império.

 

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Sobre o chão das ruas não circulam bicicletas 

nem o girar de rodas mecânicas ameaça 

a manhã oblíqua.

Os pressentimentos crescem rente aos ossos 

os medos ganham o correr dos muros 

junto aos amigos.

 

Eu imagino (por livre imaginar) 

que numa das casas próximas 

banhada em sol

mora um fabricante de bonecas.

 

Concebo o homem e suas criaturas

 a desfiarem intimidades 

no fim da tarde.

 

Bonecas tocadas em nudez de porcelana.


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  (In Poeira, editora 34, SP, 2001)

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