A ti, que cheiras a incenso, cortarei
daqui até ao Alasca!
Deixem-me!
Não me detenham!
Certo
ou errado
não posso ficar calmo.
Olhem —
decapitaram mais estrelas
e ensanguentaram o céu como um matadouro!
Eh, tu!
Ó céu!
Tira o chapéu!
Que vou a passar eu!
Silêncio!
O Universo dorme
com a enorme orelha
cheia de estrelas
sobre a pata.
(1914/1915)
(In Poetas Russos, trad. e prólogo de Manuel de Seabra, Relógio D´Água, Lisboa, 1995)
SOBRE Vladímir Maiakovski
quarta-feira, 21 de setembro de 2016
domingo, 18 de setembro de 2016
Daniel Faria
DO MANUSCRITO C DE SANTA TERESA
DO MENINO JESUS 1
A lâmpada já estava apagada. Certifiquei-me.
Não era um grão, uma vagem aberta nem a manhã.
Esperei para testemunhar a felicidade na luz
Da certeza — sim minha madre tinha vomitado
A claridade do sangue — pensei
É o céu
Era a janela todavia, a enfermidade, a fenda
Voluntária. Não era minha madre
Toda a casa terrestre demolida.
DO MANUSCRITO C DE SANTA TERESA DO MENINO JESUS 2
Imagino que nasci num país coberto por espesso nevoeiro
E que nunca contemplei o risonho aspecto da natureza inundada
É verdade que desde a minha infância oiço falar
E sei que para lá dele, na minha pátria, há outro
E que é por esse que aspiro cada dia.
Não é uma história inventada por um habitante que não volta para
[a lavra
Por um homem triste que pára na velhice ou em frente do arado
É uma realidade brilhante como um rei em combate
Um herói a coroar-se das trevas que venceu
Se é preciso que eu coma sozinha o nevoeiro da provação
Ainda que me doa a humidade do reino luminoso
Comerei a obediência — há por certo
Uma região mais íntima na circulação das minhas veias
Uma outra terra que pensa a minha morada
Um perfume, uma maravilha, um repouso
Para a cabeça dos que lutam com bravura
Eu, porém, não disperso a energia. Reúno-a
Para o amor
Viro costas ao duelo como a medalha no peito do esposo
E respiro até à última gota do sangue. Minha madre
Eu corro
[In Dos líquidos, 2000]
DO MENINO JESUS 1
A lâmpada já estava apagada. Certifiquei-me.
Não era um grão, uma vagem aberta nem a manhã.
Esperei para testemunhar a felicidade na luz
Da certeza — sim minha madre tinha vomitado
A claridade do sangue — pensei
É o céu
Era a janela todavia, a enfermidade, a fenda
Voluntária. Não era minha madre
Toda a casa terrestre demolida.
DO MANUSCRITO C DE SANTA TERESA DO MENINO JESUS 2
Imagino que nasci num país coberto por espesso nevoeiro
E que nunca contemplei o risonho aspecto da natureza inundada
É verdade que desde a minha infância oiço falar
E sei que para lá dele, na minha pátria, há outro
E que é por esse que aspiro cada dia.
Não é uma história inventada por um habitante que não volta para
[a lavra
Por um homem triste que pára na velhice ou em frente do arado
É uma realidade brilhante como um rei em combate
Um herói a coroar-se das trevas que venceu
Se é preciso que eu coma sozinha o nevoeiro da provação
Ainda que me doa a humidade do reino luminoso
Comerei a obediência — há por certo
Uma região mais íntima na circulação das minhas veias
Uma outra terra que pensa a minha morada
Um perfume, uma maravilha, um repouso
Para a cabeça dos que lutam com bravura
Eu, porém, não disperso a energia. Reúno-a
Para o amor
Viro costas ao duelo como a medalha no peito do esposo
E respiro até à última gota do sangue. Minha madre
Eu corro
[In Dos líquidos, 2000]
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