A Lélia Coelho Frota
Não queriam a vida.
Bastava-lhes a imagem.
Alérgicos a
horizontes
não chegavam à janela.
Só miravam a paisagem
por entre câmaras e lentes
cumprindo
programas
de turísticas viagens.
Nem poentes nem montes
nem sorrisos nem olhares
confiavam à
memória.
Queriam fotos nos álbuns
e carrosséis de slides.
À noite, cegos, não viam
o rastro do dia nos rostos
em torno
e, lábios de pedra,
não riscavam a faísca
do diálogo nem o fogo
generoso do
convívio.
Preferiam o amor da novela.
Dissolvidos em poltronas
em frente à tela
acesa
acordados dormiam
despidos de si mesmos.
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