domingo, 1 de dezembro de 2013

Antonio Gamoneda

Lancei no abismo o osso da misericórdia; não é necessário quando a dor faz parte da serenidade, mas a lucidez trabalha em mim como um álcool enlouquecido.

Sei que as unhas crescem na morte. Ninguém

desce ao coração. Despojamo-nos de nós mesmos ao 
expulsar a falsidade, desolamo-nos e

ninguém vem. Não

há sombras nem agonia. Bem:

não haja mais que luz. Assim é

a última embriaguez: partes iguais

de vertigem e esquecimento.

[In Oração Fria, Antologia. Sel., trad., introd. e posf. de João Moita, Lisboa, Assírio & Alvim, 2013, p. 221].

Ben Nicholson


Nenhum comentário:

Rosa Alice Branco

  A Árvore da Sombra A árvore da sombra tem as folhas nuas como a própria árvore ao meio-dia quando se finca à terra e espera co...