sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Pedro Gonzaga

ASSÉDIO
enquanto bebemos vinho
os visigodos assediam nossa mesa -
em suas bocas mastigam dentes fortes
têm sempre tanta coisa a dizer
ferozes como paulo de tarso
mas infinitamente menos sábios
a luz branca do salão
ergue em teus cabelos
um incêndio que só eu vejo
clamando de minhas mãos
um sacrifício dócil
previsto em outras noites de inverno
quando às facas de pedra
não coube a destreza de nos imolar
não havia ainda a epístola,
é verdade
nem a lâmina dos versículos
a ferida aberta do verbo
um evangelho
um átila
uma queda
entregávamo-nos
ingênuos
à sabedoria da carne
protegidos por um muro,
odre de vinho perdurável
tão distinto da uva acerba
que nossos lábios agora vilifica
expondo-nos à nudez do escárnio
da tia que coordena o bufê a quilo

[In A última temporada, Porto Alegre: Ardotempo, 2011,  pp. 65-66]

Jan van Bijlert




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