O gosto mascado de um verbo impronunciável -/ morde a língua do lápis/ ao traçar no papel/ um poema silenciado, silenciador,/ ainda que sejam três incoerentes versos,/ a existir em seus duetos/ de uma compreensão e muitas incompreensões:/ linguístico fantasma reticente/ a perturbar o sono de um papel manchado./
de testemunho em testemunho/ se diz a inaudita obra,/ certas palavras que emergem do abismo/ grafado em históricas durações;/ e se abatem como ondas despenteadas/ a resvalar nos cimos das pedras,/ rochas a dizer água às águas./
e o poeta, um pedaço de pedra/ tingido na maresia do tempo/ aprende a sentir como o limo tocado/ a amaciar os dedos frágeis da criança/ no descobrimento das letras - /
gramática litorânea de mar e areia.
Eis quando um poema/ é da desordem do absurdo.
© Ailton Volpato
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