Lágrimas inundam os olhos de Händel, tão violento o fervor se agita dentro dele. Folhas ainda tinham que ser lidas, a terceira parte do oratório. No entanto, após esse “Aleluia, Aleluia”, ele não pôde ir mais adiante. Esse júbilo o preencheu harmonicamente, dilatou-se e expandiu- se, doendo-lhe como fogo líquido que queria correr, sair. Ó, como isso comprimia e oprimia, pois ele queria escapar dele, ascender e retornar ao céu. Célere, Händel tomou a pena e escreveu notas, que se iam formando uma após outra com mágica pressa. Ele não podia parar e, como um navio cujas velas são impelidas pela tempestade, continuou a ser levado. Ao seu redor a noite estava silenciosa, a úmida escuridão jazia calada sobre a grande cidade. Contudo dele jorrava a luz e inauditamente o gabinete retumbava com a música do universo.
[Excerto do ensaio A RESSURREIÇÃO DE GEORG FRIEDRICH HÄNDEL, in Momentos Decisivos da Humanidade, tradução Álvaro Alfredo Bragança Júnior e Ingeborg Hartl, São Paulo, Record, 1999, p. 91]
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Fonte: Blog de Henrique Autran Dourado
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