segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Keats

A BELEZA EM CADA SER É UMA ALEGRIA ETERNA
A beleza em cada ser é uma alegria eterna:
o seu encanto torna-se maior e nunca se há-de perder
no nada; reservar-nos-á ainda um refúgio
de paz, onde adormeceremos habitados por sonhos
suaves, a felicidade do nosso corpo, uma respiração branda.
Comecemos, assim, a tecer em cada manhã
uma grinalda de flores para nos unirmos à terra,
apesar do desalento, da ausência daqueles
cuja nobreza amávamos, dos dias cheios de escuridão,
de todos os caminhos insalubres e misteriosos,
abertos para os nossos anseios; sim, apesar de tudo,
uma forma de beleza afasta o sudário
das nossas almas sombrias. Assim é o sol, a lua,
as antigas ou novas árvores cuja bênção faz germinar
a sombra sobre os humildes rebanhos; os narcisos
e o mundo verdejante que os cerca; e os límpidos rios
que para si criam um dossel de frescura
durante as estações ardentes; os silvados do bosque
enriquecidos pelo belo, nascente esplendor das rosas;
e, também, a magnificência do destino
que imaginamos para os mortos poderosos;
as histórias encantadoras que lemos ou escutamos:
fonte inesgotável duma imortal bebida,
que vem do limiar do céu e para nós se derrama.

E não é apenas por algumas horas passageiras
que nos abandonamos a estas essências; assim como as árvores
murmurando à volta dum templo logo se tornam
tão amadas como o próprio templo, também a lua
e a paixão da poesia, glórias infinitas, tantas vezes
nos assombram, até serem uma luz vivificadora
da alma, e com tanta firmeza nos cingem,
para que, esteja a brilhar o sol ou se apaguem os céus,
elas existam eternamente em nós, ou morreremos.

[In Poesia Romântica Inglesa, Byron, Shelley, Keats,  prefácio e tradução de Fernando Guimarães, Relógio D´Água, Lisboa, 2010, p. 113]

By Svetlana Rodionova


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