domingo, 15 de outubro de 2017

Cecília Meireles

ADOLESCENTE ROMANO
Eis a bela cabeça de bronze do remoto adolescente:
o cabelo é uma franjada coroa como de folhas de oliveira;
as sobrancelhas arredondam guirlandas serenas;
a narina respira o arcaico dia de vida;
há no lábio uma surpresa de sonho quase com forma de palavra.
E como o artista vazou-lhe a íris, tal pupila desmesurada,
cai-lhe sobre todo o rosto uma sombra densa, grave e profunda:
- redondas janelas por onde penetra a face móvel dos séculos,
redondas janelas por onde assoma esse abismo da eternidade,
silencioso, imenso, extático,
onde as imagens todas se apagam.
Que adolescente viveu com sua carne
o espetáculo de alma que o bronze traz de tão longe?
[Em Poemas Italianos, 2017]

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