terça-feira, 24 de julho de 2018

Czeslaw Milosz

MANHÃ
Bela é a terra
belas são as nuvens
belo é o dia
e muito intenso é o amanhecer.

Assim cantava um homem olhando para baixo, a cidade,
de onde fumegava uma bateria de cem chaminés.

E o pão da mesa era um segredo,
de vê-lo palpitava a fronte
o homem levantou alto o braço
e entre risos dançava ao redor, desfraldado.

O sabor do pão recorda a luz do sol
ao comê-lo, do pão irradiam raios.
Depois, indo para o trabalho, o homem sentiu o amor
e mencionou-o às pedras da rua.

Amo a matéria que é só um espelho que gira.
Amo o movimento do sangue, única razão do mundo.
Creio na destrublidade de tudo o que existe.
Para não perder-me, tenho na mão um lívido mapa de veias.


ESTE MUNDO 
Acontece que houve um mal entendido.
Tomou-se por literal o que não passava ainda de uma prova.
Os rios voltarão às suas origens,
o vento deixará de dar voltas.
As árvores não brotarão e voltarão às suas raízes.
Os velhos correrão atrás da bola,
Olhar-se-ão no espelho e serão outra vez meninos.
Os mortos despertarão sem compreender.
Até que todo o andado se desandará.
Que alívio! Respirai, vós que tanto haveis sofrido!
(Versão: Antonio Cabrita)

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