segunda-feira, 23 de abril de 2012

Adélia Prado

CONSTELAÇÃO
Olhava da vidraça
derramar-se a Via Láctea
sobre a massa das árvores.
Por causa do vidro,  da transparência do ar,
ou porque me nasciam lágrimas,
tinha a impressão de que algumas estrelas
mergulhavam no rio,
outras paravam nos ramos.
Passageiros dormiam,
eu clamava por Deus
como o cachorro que sem ameaça aparente
latia desesperado na noite maravilhosa:
Ó Cordeiro de Deus, Ó cruzeiro do Sul,
Ó Cordeiro, Ó Cruzeiro!
Como o cão minha língua ladrava
à aterradora beleza.

[A duração dos dias, p. 87]





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