segunda-feira, 28 de maio de 2012
Olga Orozco
LAMENTO DE JONAS
Este corpo tão denso com que fecho todas as saídas,
este saco de sombras, costurado às minhas duas asas
não impedem que eu vá até o fundo de mim:
uma noite cerrada onde vêm incidir todas as
miragens da noite,
algumas águas distraídas onde a esfinge de outro
mundo molha seus pés.
Aqui costumo encontrar vestígios de outra era,
fragmentos de panteões não destruídos pelo sal de meu
sangue,
oráculos e faunas aspirados pelas cinzas de meu
porvir.
Às vezes aparecem continentes em vôo,
plumas de outras roupagens submersas;
às vezes permanecem quase como o anúncio da
ressurreição.
Mas é melhor não estar.
Porque aqui há armadilhas.
Alguém brinca de não estar quando estou
ou me observa junto comigo por entre as guaridas de
cada solidão.
Alguém simula um fosso entre o sonho e a pele para
eu deslizar até o último abismo dos outros
ou me induz a cavoucar embaixo de minha sombra.
In Poesia Argentina (1940-1960), Iluminuras: São Paulo,1990, p. 101, seleção e tradução Bella Jozef
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