segunda-feira, 28 de maio de 2012
María Elena Walsh
OBJETOS NA SOLIDÃO
Entrar em uma casa, comer frio.
A ternura deixou suas chinelas
debaixo de uma sombra.
Desconfio do sigilo de lâmpadas e cadeiras
e de algumas condutas amarelas.
O que permanece quieto alarma, dói,
provoca pânico, derrama o canto.
Não há estatística que não revele
tesouras na fila do espanto,
um alfinete que se parece com o pranto.
Não haverá quem traga pálpebras lá de fora,
lapelas, fumaça, senhas enrijecidas.
Um ruído de recantos desespera
e somente móveis homicidas
falam de preparativos, despedidas.
Ganha-se gestos de suspeita,
envelhece-se de tamanho disparate.
Não há senão como remédio uma flor desfeita,
o vigiar um cigarro morto.
Sociedade bem anônima, com certeza.
E o pior é que o travesseiro incomoda
com lúcida iminência. Dormir
tem uma ambiguidade tão perigosa
que em tais noites nunca se deve dizer:
desta desolação não hei de morrer.
In: Poesia Argentina (1940-1960), Iluminuras: São Paulo, 1990, p. 155, seleção, prefácio e seleção de Bella Jozef
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