A ROSA BRANCA
Pétala alta: que extrema superfície. Catedral de vidro, superfície da
superfície, inatingível pela voz. Pelo teu talo duas vozes à terceira e
à quinta e à nona se unem – crianças sábias abrem bocas de manhã e
entoam espírito, espírito, superfície, espírito, superfície intocável de
uma rosa.
Estendo a mão esquerda que é mais fraca, mão escura que logo recolho
sorrindo de pudor. Não te posso tocar. Teu novo entendimento de gelo e
glória meu rude pensamento quer cantar.
Tento lembrar-me da memória, entender-te como se vê a aurora, uma
cadeira, outra flor. Não temas, não quero possuirte. Alço-me em direção
de tua superfície que já é perfume.
Alço-me até atingir minha própria aparência. Empalideço nessa região assustada e fina, quase alcanço tua superfície divina …
Na queda ridícula as asas de um anjo quebrei. Não abaixo a cabeça
rosnante: quero ao menos sofrer tua vitória com o sofrimento angélico de
tua harmonia, de tua alegria. Mas dói-me o coração grosseiro como de
amor por um homem.
E das mãos tão grandes sai a palavra envergonhada.
Onde estivestes de noite, Rocco: Rio de Janeiro, 1999, p. 66
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Fernando Paixão
Os berros das ovelhas de tão articulados quebram os motivos. Um lençol de silêncio cobre a tudo e todos. Passam os homens velho...
-
ÂNGELA.- Continuei a andar pela cidade à toa. Na praça quem dá milho aos pombos são as prostitutas e os vagabundos — filhos de Deus mais do ...
-
PÃO-PAZ O Pão chega pela manhã em nossa casa. Traz um resto de madrugada. Cheiro de forno aquecido, de levedo e de lenha queimada. Traz as...
-
ODE DESCONTÍNUA E REMOTA PARA FLAUTA E OBOÉ. DE ARIANA PARA DIONÍSIO. I É bom que seja assim, Dionísio , que não venhas. Voz e vento ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário