Falar do trigo e não dizer
o joio. Percorrer
em voo raso os campos
sem pousar
os pés no chão. Abrir
um fruto e sentir
no ar o cheiro
a alfazema. Pequenas coisas,
dirás, que nada

esta outra, maior: dizer
o indizível. Ou esta:
entrar sem bússola
na floresta e não perder
o rumo. Ou essa outra, maior
que todas e cujo
nome por precaução
omites. Que é preciso,
às vezes,
não acordar o silêncio.
Albano Martins, in Escrito a vermelho,1999
Diálogo
Levarás
pela mão
o menino
até ao rio. Dir-lhe-ás
que a água é cega
e surda. Muda,
não. Que o digam
os peixes, que em silêncio
com ela sustentam
seu diálogo
líquido, de líquidas
sílabas
de submersas
vogais.
Albano Martins, in "Castália e Outros Poemas"
Albano Martins nasceu em 1930 na aldeia do Telhado (e não, como consta do seu registo de nascimento, em Póvoa de Atalaia), concelho do Fundão, distrito de Castelo Branco, província da Beira Baixa, Portugal. Licenciado em Filologia Clássica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi professor do Ensino Secundário de 1956 a 1976. Tendo ingressado, em 1980, nos quadros da Inspecção-Geral de Ensino, passou, em 1993, à situação de aposentado.
Fonte: museuposmodernodeeducacao.blogspot.com
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