FRAGMENTO DE "UMA DESOLAÇÃO"
Notar a singularidade. Lionel, meu amigo, e o mais apaixonado dos homens, nunca parou de pesquisar a ausência de paixões. Aquilo de que sofro, meu filho, está contido nesse olhar que vejo. Um olhar que oscila entre a piedade e o aborrecimento. E a irritação talvez. Você me ouve, você se esforça para estar presente, e nada do que você ouve está em você, nada lhe interessa nem o toca. Você sabe que a falta do ser presente é o mais forte? Você sentiu isso? Mesmo quando você acredita ser ouvido e amado, o outro persiste em sua ausência. A sua, meu filho, é radical. Eu posso pegar sua mão, mas você está tão longe quanto possível. Nós não podemos fazer nada juntos. Em seus olhos leio leio sua incompreensão e minha velhice. Leia o abandono. Leio o testemunho da solidão.
In UMA DESOLAÇÃO, Rio de Janeiro: Rocco, 2011, p. 71, trad. Sérgio Guimarães
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terça-feira, 17 de julho de 2012
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