NEM PARECE AMOR
Perdi a conta das vezes
que retomei esta escritura
sem avançar de sítios pantanosos,
tomando por melodia
o que era um ranger de ferros
de máquina contristada em seu limite.
Foi ontem e já tem cem anos,
faz um minuto só,
foi agora e foi nunca,
jamais aconteceu,
não há, não houve,
o que não tem palavras não existe.
De quem é então esta pegada?
Este filete de sangue?
Masturbações, risadas,
caretas no escuro, aliterações picarescas,
comem do meu cansaço em mesa farta.
Aquele que não responde
trata-me como a um cão
que por não ter aonde ir
se enrodilha aos Seus pés.
QUERIDO LOUCO
Quando um homem delira,
de onde fala sua alma a língua
para todas as línguas traduzível
sem prejuízo de sua insensatez?
Ouvi-la obriga a alfabeto novo,
dói tanto que os relógios param.
Tem piedade de mim é o mesmo que
‘me dá um chinelo pra eu surrar o enfermeiro,
Deus é bom, nas famílias em crise ninguém escuta ninguém’.
Tira do bolso nota de pouca valia,
me dando a senha pra encerrar a visita:
Obrigado por tudo e vai com Deus,
vai comprar pra você uma coisa bonita.
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