Tempo é espaço interior. Espaço é tempo exterior.
Novalis
A gaivota determinada mergulha na água
Verde. Há um tempo
para o peixe
E um tempo para o pássaro
E dentro e fora do homem
Um tempo eterno
de solidão.
Muitas vezes, fixando o meu olhar no morto,
Vi espaços claros, bosques, igapós,
O sumidouro de um tempo subterrâneo
(Patético, mesmo às
almas menos presentes)
Vi, como se vê de um avião,
Cidades conjugadas pelo sopro do homem,
A estrada amarela, rio barrento e torturado,
Tudo tempos de homem, vibrações de tempo, vertigens.
Senti o hálito do tempo doando melancolia
Aos que envelhecem
no escuro das boites,
Com uma tensão de nervos feridos
E corações espedaçados.
Se acordamos, e ainda não é madrugada,
Sentimos o invisível fender o silêncio,
Um tempo que se ergue ríspido na escuridão.
Cascos leves de cavalos cruzam a aurora.
O tempo goteja Como o sangue.
Os cães discursam nos quintais, e o vento.
Grande cão infeliz,
Investe contra a sombra.
O tempo é audível; também se pode ouvir a eternidade.
In Melhores Poemas - Paulo Mendes Campos, São Paulo: Global Ed., 2000, 3a. ed, pp. 52-53
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