quando o sol tornar a colorir a figueira da montanha
aves
iluminadas estarão cantando em teu silêncio.
escutarás então o inexistente tempo
fluindo sob o peso morno
das lágrimas
sob sob.
quando o sol tocar o vento
e os longos dedos de gelo
coçarem a pele da manhã
incendiando os galos e os cabelos
das árvores e das montanhas
ninfas girando entre vertigens castanhas
quando o sol puxar entre os dentes
o interno verbo de todas
as galáxias
altas redes de vento e luz e infinito
saberás que atrás de cada tortura
de cada assassínio
de toda
a impostura
detrás de cada negação ou falsificação
do humano manancial
o
olhar da vida
o permanente olhar da vida
sempre ardeu como um grito saltando do pó do avesso do ódio
dos ossos das sepulturas dos cárceres do rosto vazio e
implacável
(Restos & estrelas & fraturas - 1975)
In: Roteiro da Poesia Brasileira - anos 70, seleção e prefácio Afonso Henriques Neto, São Paulo: Global, 2009, p. 114
In: Roteiro da Poesia Brasileira - anos 70, seleção e prefácio Afonso Henriques Neto, São Paulo: Global, 2009, p. 114
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