sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Domingos Pellegrini

SERVENTE

A tudo estarei atento
seja ao clamor das estrelas
seja ao silêncio mais reles
dentro desta noite imensa

Acenderei os incensos
e polirei os talheres
no banquete dos prazeres
ou no jejum dos conventos

Erguerei ao sol a luz
de fraternos pensamentos
e sentimentos em festa

Se me sentir incompleto
colocarei meu capuz de líquens
e ilusões secas

GEADA
Parece que foi pintado o céu 
por um pintor que só tivesse anil
e o verde do gramado neste frio 
branqueou e depois empalheceu

Faca de ar recorta nossa cara 
se troteamos até o riacho 
onde a água fala com voz clara 
e para um gole de gelo me agacho

No pomar as laranjas empedradas
 nos cochos água ainda endurecida 
a égua mais alegre aquietada

Porém olhando bem como por mágica 
a compensar os danos e perdidos 
sumiram moscas e cadê as pragas?

In: Gaiola Aberta 1964 - 2004, Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2004, pp. 106-107.


Sobre Domingos Pellegrini

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