Não hoje, talvez amanhã.
Canto. Verdade. Amor. Sofrimento.
Sim, amanhã, por certo, amanhã.
Ainda não raiou o instante.
Ainda há restolhos no caminho. E demasia
de quimera a premir o mármore. E denodo
pronto a lançar o dardo. E soluços
ao desmaio das brumas. Ainda escorre
dos alvéolos o doce mel.
Mais alguns lances pelo esboço.
Leves retoques no cenário.
Céu pouco a pouco aberto em perspectiva
por que o pássaro evoque
— serenidade viva — o dom
e não o preço do equilíbrio.
Para o momento de exceção, válido acima
da contingência.
Momento que virá porventura amanhã.
Com a têmpera do azul no campo
lactescente de espigas.
Henriqueta Lisboa, Obras Completas, Vol. I, Poesia Geral, Duas Cidades: São Paulo, 1985, pp. 336-337
Nenhum comentário:
Postar um comentário