ONDE PAIRA
A CANÇÃO RECOMEÇADA
Onde paira a canção recomeçada
Onde prossegue a dança terminada
Nas lajes de meu tempo de
chorar?
Rapaz, em minhas mãos cheias de areia
Conto os astros que faltam no
horizonte
Da praia soluçante onde passeia
A espuma de teu fim, pranto sem
fonte.
Oh juventude, um pálio de inocência
Jamais se estenderá sobre outra
aurora
Mais clara que esta clara adolescência
Que o lupanar da noite hoje
devora:
Que vale o lenço impuro da elegia Sobre teu rosto, lúcida
alegria?
EGO DE MONA
KATEUDO
Dor, dor de minha alma, é madrugada
E aportam-me lembranças
de quem amo.
E dobram sonhos na mal-estrelada
Memória arfante donde
alguém que chamo
Para outros braços cardiais me nega
Restos de rosa entre
lençóis de olvido.
Ao longe ladra um coração na cega
Noite ambulante. E
escuto-te o mugido,
Oh vento que meu cérebro aleitaste,
Tempo que meu destino ruminaste.
Amor, amor, enquanto luzes, puro,
Dormido e claro, eu velo
em vasto escuro,
Ouvindo as asas roucas de outro dia
Cantar sem despertar minha
alegria.
In O HOMEM E SUA HORA E OUTROS POEMAS, São Paulo: Companhia de Bolso, 2009, pp. 88-89
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