Quantas possíveis vidas terão ido
Com esta pobre e diminuta
morte,
Quantas possíveis vidas que a sorte
Daria à memória ou ao
olvido!
Quando eu morrer, morrerá um passado;
Com esta flor um
futuro está morto Nas águas que ignoram, um aberto
Futuro pelos astros
arrasado.
Eu, como ela, morro de infinitos
Destinos que o acaso não me
depara;
Busca minha sombra os desgastados mitosDe uma pátria que sempre mostrou a cara.
Um breve mármore vela sua memória;
Sobre nós vai crescendo, atroz, a história.
Meus livros
Meus livros (que não sabem que eu existo)
São tão parte de mim como este rosto
De fontes grises e
de grises olhos
Que inutilmente busco nos cristais
E que com a mão côncava
percorro.
Não sem alguma lógica amargura
Penso que as palavras essenciais
Que me expressam se encontram nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevi.
Melhor assim. As vozes dos mortos
Vão me dizer para sempre.
Poesia Borges, Companhia das Letras, 2009, p. 190-191
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