sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Jorge Luis Borges

Em memória de angélica
Quantas possíveis vidas terão ido 
Com esta pobre e diminuta morte,
Quantas possíveis vidas que a sorte 
Daria à memória ou ao olvido!
Quando eu morrer, morrerá um passado; 
Com esta flor um futuro está morto Nas águas que ignoram, um aberto 
Futuro pelos astros arrasado.
Eu, como ela, morro de infinitos 
Destinos que o acaso não me depara;
Busca minha sombra os desgastados mitos
De uma pátria que sempre mostrou a cara.
Um breve mármore vela sua memória;
Sobre nós vai crescendo, atroz, a história.

Meus livros
Meus livros (que não sabem que eu existo)
São tão parte de mim como este rosto
De fontes grises e de grises olhos 
Que inutilmente busco nos cristais 
E que com a mão côncava percorro.
Não sem alguma lógica amargura
Penso que as palavras essenciais
Que me expressam se encontram nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevi.
Melhor assim. As vozes dos mortos
Vão me dizer para sempre.

Poesia Borges, Companhia das Letras, 2009, p. 190-191

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