Comprei uma coisa pela qual perdidamente me apaixonei: o preço não importa, esse objeto vale o ar.
Tem essa coisa uma base sólida de metal, muito concisa. Nesse cilindro faiscante há uma levíssima abertura. Nesta se põem hastes delicadas e finas. E em cima de cada haste fica em glória uma bolinha redonda e pequena que parece uma joia de prata de lei.
Esse objeto é mágico. Basta um sopro ou um leve toque de mão — e ele vibra todo se confundindo tremeluzente com o ar. É um objeto de lua ou de sol? parece uma boa notícia, parece um susto alegre, parece um “de repente”. São trinta bolinhas e hastes. Mas você se engana: quando elas se põem a vibrar e a mexer-se parecem um delicado trilhão de bolinhas. Mais outra coisa ele tem: quando se acendem as luzes da sala, as bolinhas fazem sombra, verdejantes.
E tem mais: quando vibra resulta do leve entrechoque das bolinhas entre si — resultam umas notas musicais. E esse objeto se for bem trabalhado e impulsionado canta ligeiro — ligeiro dó-ré-mi...
“Pegando a palavra”. Pego a palavra e faço dela coisa.
Peguei a alegria e fiz dela como cristal brilhíssimo no ar. A alegria é um cristal. Nada precisa ter forma. Mas a coisa precisa estritamente dela para existir.
In Um Sopro de Vida (Pulsações), Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 4a. ed, 1978, p.111
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