Torrencialmente, um deserto
Desaba ao som de trovões.
Não molha tudo o que toca
Mas seca tudo o que pensa.
A areia, essa antimatéria
Untada em forma de vidro,
Simula, toda translúcida
- um vidro, feito olhos falsos?
Lá fora a calha responde
Apenas deixa passar.
O jarro pensa que colhe
Aquilo que jorra, e planta.
Saliva engolida a seco
Vertendo aridez nos poros.
Saio nas poças da chuva
Banhadas de uma poeira,
Lembrando, como quem salva,
O gosto da sua boca.
[A Musa Diluída, São Paulo: Record, 2006, p. 71]
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