terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Angela Melim

UM NAVIO

Quanta paz aqui em baixo, na raiz do mundo... 
V. WOOLF

A solidão é um navio.
Só o que me move é a pá da solidão
o leme.
Se não gozo
suspiro
cristas suspensas
pedras de sal
fiapos de mar
— a maior boca
a mais
voraz.
Mas no seu fundo longínquo
âncora
os leitos de areia e seus lençóis limpíssimos
os peixes cegos
a paz.

Mais dia menos dia (1996) 

PRÓXIMA CENTAURI

Afastei-me
de vós, oh
estrela mais próxima, a vinte e cinco trilhões de milhas do meu sol,
ah mais próxima massa explosiva - finas
espadas de laser e dor.

Ah minha estrela, como eu suspensa
atravessada de lâminas e línguas
de fogo,
disforme, no entanto brilho, núcleo
indefinível inegável oh núcleo da luz.
Ó minha estrela dilacerada,
minha estrela de pontas,
Porta do céu, Estrela da manhã,
tende piedade de mim.

Ouvi-me
Sede sapientiae
Causa nostra laetitiae
Regina pacis
Centauro de Deus, que tirais os pecados do mundo,
atendei.

Ibidem

Fonte: Roteiro da Poesia Brasileira - anos 70, seleção e prefácio Afonso Henriques Neto, São Paulo: Global, 2011, p. 212-213.


Angela Melim nasceu em Porto Alegre (RS), em 1952,  e vive no Rio de Janeiro, onde trabalha com tradução e redação. 


Jim Avignon

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