quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Reynaldo Jiménez


A impregnação

onde disse, afiado,
cabelos, deveria ressoar
cavalos; onde imprecação,
talvez imbricação, ou
ainda invitação.
de mão a mão, se reparte o cosmos:

     imundície sobre bocas,
deserto as costelas,
cabeças e cabeças e cabeças e
(pendem dos mastros)
 trilhas da tartaruga na praia,
um segundo antes de ser
tragada pelas aves de passagem

     ou pelo mar. mentira:
onde disse trilhas deveria ouvir-se
colo e onde tartaruga, terra:
colo da terra entreouvida,

     lepra nas entranhas. Dizem,
a terra se mancha com os corpos
volvidos a sua inércia;que salvo
o fogo, tudo é marcha e escurecida
impregnação, embora corra,
a tartaruga não tem senão sombra
de albatroz, e nem o oceano poderia
regravá-la em seu fluido, a mão,
até a mão volta, mostra:

     onde disse
mão deveria abri-se fogo, e onde fogo
imbricação, invitação ao mar,
terra interdita, se parte o cosmos:

     cavalos flutuam como cabelos. 


In Poetas na Biblioteca Antologia, São Paulo: Fundação Memorial da América Latina, 2001, trad. Claudio Daniel, pp.  97-98


Blog do poeta R. Jiménez
Aldemir Martins





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