domingo, 20 de janeiro de 2013

Armindo Trevisan

OS MORANGOS
Foi absurdo que ela viesse. Os morangos
guardavam da chuva a pressa.
As folhas lhe alargavam a pele.
Seus pés tinham perdido o rigor
dos caminhos.

Os lábios lhe batiam,
coração trespassado. Pediu água para beber.

Foi absurdo que ela quisesse me amar neste dia.
Não pronunciamos palavra.
O entendimento dos corpos não nos deixou chorar,
pensamos em coisas que agradariam ao mundo.

Partiu subitamente. Em paz.
Quando se voltou para me olhar outra vez,
senti que não a amara sozinha. Dera-lhe
minha esperança incrível na ressurreição.

(O abajur de Píndaro & A fabricação do real - 1975)

In: Roteiro da Poesia Brasileira - anos 60, seleção e prefácio Pedro Liyra, São Paulo: Global, 2011, p.  155.

Nenhum comentário:

Rosa Alice Branco

  A Árvore da Sombra A árvore da sombra tem as folhas nuas como a própria árvore ao meio-dia quando se finca à terra e espera co...