Depois das queimadas as chuvas
Fazem as plantas vir à tona
Labaredas vegetais e vulcânicas
Verdes como o fogo
Rapidamente descem em crateras concisas
E seiva
E derramam o perfume como lava
E se quiséssemos queimar os animais de grande porte
Eles não regressariam. Mas a morte
Das plantas é sua infância
Nova. Os caules levantam-se
Cheios de crias recentes
Também os corações dos homens ardem
Bebem vinho, leite e água e não apagam
O amor
***
A estrela nasce da raiz carbonizada
Do caule queimado
Da roda dos bois afogueados
Quando em chamas com cornos espigados
Passam entre medas que alumiam o caminho para casa.
O fogo é provisão e possessão
O degrau na vida - ao meio
A bússola que arde. E há constelações na mão
Que leva o gado.
***
Largo é o aberto abandonado
E o vazio é pata que sustenta
De leveza o ramo. O pássaro amanhece
E o seu bico não fere o seu canto.
***
Como doem as árvores
Quando vem a Primavera
E os amigos ainda estão de pé
***
Como as crias no colo dobrasse as patas
E nas pequenas hastes trespassasse
O que separa
E bebesse do chão aberto pelos cascos
***
Voz o vento passando entre poeira
Edifício
Árvore noutro poema
Fico à sombra da vide e do esteio no Outono
E enxerto a luz
em tudo o que nomeio
[Daniel Faria, Poesia, Quasi Edições]
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