Há um desassossego em mim,um desassossego bizarro, diabólico, que poderia ser produtivo
se eu o soubesse utilizar. Um desassossego criador.Não se trata do desassossego do corpo.Nem mesmo uma dúzia de excitantes noites de amor lhe conseguiriam por fim. É um desassossego quase "sagrado". Ó Deus, toma-me na tua grande mão e torna-me o teu instrumento, faz-me escrever.
In Diário 1941-1943 04.07.1941, sexta-feira.
Uma pessoa procura o sentido da vida e pergunta-se se ela na realidade ainda tem sentido.
Mas este é um assunto que cada um deve decidir consigo e com Deus. E talvez cada vida tenha o seu próprio sentido e dure uma vida inteira para o encontrar. Pelo menos de momento perdi toda a relação com as coisas e a vida, e tenho a sensação de que tudo é casual e que interiormente uma pessoa
se deve desligar dos outros e de tudo. Parece tudo tão ameaçador e sinistro, e depois a grande impotência.
In Diário 1941-1943
E agora sou aquilo a que chamam doente e anêmica e mais ou menos acamada, e no entanto,
cada minuto é frutuoso, até não mais poder. Como será quando eu estiver novamente com saúde?
Sou obrigada a aclamar-te continuamente, meu Deus: estou-te muitíssimo grata por teres querido dar-me esta vida.
Uma alma é algo feito de fogo e cristal de rocha.É algo muito severo e com a dureza do Antigo Testamento, mas também tão suave como o gesto com que suas cautelosas pontas dos dedos afagam as minhas pestanas.
In Diário 1941-1943. 12-10-42, segunda-feira
Sobre ETTY HILLESUM
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