terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Novalis

SAUDADES DA MORTE
Desçamos ao reino terrestre,
Deixemos império de Luz.
Sinal de partirmos alegres
Das mágoas são golpes e fúria.
Varemos estreito batel,
Veloz, nas margens do Céu.

Louvados noite e sono,
Eternos e sempre louvados.
O dia deu-nos o calor,
Secura dão-nos cuidados.
Errantes seremos não mais,
Buscamos a casa do Pai.

No mundo, então, que faremos
Com tanto amor, tão fiéis?
Se põem de lado o velho,
O novo o que nos reserva?
Mas que só, desconsolado,
O devoto do passado!

Do tempo em que altas brilhavam
As chamas da luz dos sentidos.
As mãos do bom Pai e o Rosto
Do homem eram conhecidos
Ainda à sua imagem feitos,
Tantos espíritos eleitos.

Do tempo em que ainda floriam
Antigas estirpes magníficas,
O reino do Céu pretendiam
Crianças pelo martírio.
Mil corações d’amor rasgados,
Outros só a prazeres dados.

Do tempo em que jovem e ardente
A Si mesmo Deus se mostrou.
À morte tão cedo consente
Dar vida tão doce de amor.
Penas nem medos afasta
Porque ser fiel lhe basta.

Mas vê temerosa saudade
Estaremos na noite encobertos.
Jamais a transitoriedade
Acalma a sede que aperta.
Nós vamos voltar à pátria,
Ver esse tempo sagrado.

Já tarda nosso regresso,
Repousam há muito os Amados!
O túmulo a vida nos fecha,
Agora são dores e os medos
Nada quer o coração
Tão farto em mundo tão vão.

Secreto, infindavelmente,
Um manso arrepio perpassa.
Parecendo-nos que se sente
Funéreo eco de mágoas.
O hálito da saudade
Vem daqueles que amamos.

Descer até à doce Noiva,
Até Jesus – nosso Amado.
A paz de quem ama e sofre
É sol poente iluminado.
Um sonho desprende laços,
O Pai nos cinge nos braços!

In Os Hinos À Noite. Trad.: Fiama Hasse Pais Brandão

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