FILHOS DE ARES
Houve sangue na atmosfera e nuvens nos charcos
E picadas de pássaros em lábios de cadáveres.
E houve homens lagarto arrastando-se no lodo.
E pragas multiplicando-se em casas desocupadas.
E houve corvos na observação de soldados nus.
E mulheres ocultas em ossários, recolhendo cantos.
E houve homens em peleja pelas urinas de uma latrina.
E um proscrito faminto que sonhava devorar explosivos.
E houve cantos, silvos e sussurros ao alvorecer.
E um homem que solfejava de dia e tossia à noite.
E houve crianças que cremavam formigas que iam para o combate.
E um judeu que procurava seu filho entre as ervas.
E houve soldadesca e gargalhadas, cervejas e whisky.
ESPECTRO NOTURNO
O vento açoita a porta.
A chama da vela se extingue.
O eco de um canto se escuta...
Uma árvore arranha nos vidros
Um enxame de formigas pulula nas frestas
Suspensa num livro a aranha aguarda
Umas pisadas, um estalar de pedriscos...
O eco de um canto se reitera...
A avó hermafrodita com bigode,
Senta-se acocorada na lâmpada.
Duas chamas oscilam na cara do gato.
O pai morto cruza o umbral...
O eco de um canto se extingue...
— Tenho medo, papai — grita o menino.
Alguém acende a luz.
Tradução: José Pires Cardoso
Ximena Gómez é uma poeta colombiana radicada em Miami!
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
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