terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ximena Gómez

FILHOS DE ARES
Houve sangue na atmosfera e nuvens nos charcos
E picadas de pássaros em lábios de cadáveres.

E houve homens lagarto arrastando-se no lodo.
E pragas multiplicando-se em casas desocupadas.

E houve corvos na observação de soldados nus.
E mulheres ocultas em ossários, recolhendo cantos.

E houve homens em peleja pelas urinas de uma latrina.
E um proscrito faminto que sonhava devorar explosivos.

E houve cantos, silvos e sussurros ao alvorecer.
E um homem que solfejava de dia e tossia à noite.

E houve crianças que cremavam formigas que iam para o combate.
E um judeu que procurava seu filho entre as ervas.

E houve soldadesca e gargalhadas, cervejas e whisky.


ESPECTRO NOTURNO
O vento açoita a porta.
A chama da vela se extingue.

O eco de um canto se escuta...

Uma árvore arranha nos vidros
Um enxame de formigas pulula nas frestas
Suspensa num livro a aranha aguarda
Umas pisadas, um estalar de pedriscos...

O eco de um canto se reitera...

A avó hermafrodita com bigode,
Senta-se acocorada na lâmpada.
Duas chamas oscilam na cara do gato.
O pai morto cruza o umbral...

O eco de um canto se extingue...

— Tenho medo, papai — grita o menino.
Alguém acende a luz.

Tradução: José Pires Cardoso

Ximena Gómez é uma poeta colombiana radicada em Miami! 

Nenhum comentário:

Rosa Alice Branco

  A Árvore da Sombra A árvore da sombra tem as folhas nuas como a própria árvore ao meio-dia quando se finca à terra e espera co...