A nossa luz e a nossa sombra.
Estamos para ser
Bebidos
Ser o alimento das rosas
E a saliva do cão
-o bico da rola
que abre a música dentro do cristal.
Somos para ser despejados na rua
Ou, tão só, nos perdermos dentro dos tubos escuros
Misturados em urina e fezes.
E, no entanto, a água que somos
Torna brancas as escadas de mármore
E tantas vezes arde
Até ao incêndio.
CEDO
Cedo
Foste atirado
Para as florestas de chumbo
Onde todos nos iremos encontrar
Sem nos conhecermos.
Galerias de água negra
Se abriram nos teus olhos
Quando círculos e círculos
Te sorveram.
Não
Não era hoje o dia mais propício
Para morreres
Com um doce coágulo de sol
Na fronte.
QUE A ESCADA TE
SIRVA
Que a escada te sirva
Para alcançares o Monte Ararat.
Que a vieira te sirva
Para beberes o mar.
Todos somos o teu bordão.
Planta uma árvore
Sobre o mar vermelho
Planta-a dentro do triângulo
Planta-a
Para que cresça sobre o fel
sufocado
Entre a lua e o sol.
DESPEDE-TE DA CASA
Despede-te da casa
Para ires ao encontro do bosque do
mundo
Despede-te do espelho
Para ires ao teu encontro
Despede-te de ti
Para ires ao encontro do branco-nada.
Antes de partires tapa com lenços
negros
Os orifícios do teu corpo
Tapa-os com lenços vermelhos
E envolve-te em argila marinha
Se queres que o teu caminho
Seja um poema mais tarde.
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