Uma coisa, meu amor, ser-me-á imprescindível.
Jan Vermeer |
que meus olhos te olhem e tua graça me preencha;
que teu olhar cubra meu peito de ternura
e extasiada não encontre outro motivo
para morrer que tua ausência.
Mas, que será de mim quando tu te fores?
pouco ou quase nada servem, fora de tuas razões,
a casa e seus afazeres, a cozinha e a horta.
És todo meu ócio:
o que importa que minha irmã ou os demais murmurem,
se sais em minha defesa, já que só amor conta.
MENINA
Levas um copo cheio de transparências
entre inquietas mãos e escorregadios dedos.
Podes cantar o céu, o amor, as estrelas:
tudo nascerá novo de teus lábios formosos.
Descobrirás em sonhos a vida que te persegue
tão docilmente mansa e lhe sorrirás.
Despertarás o dia menos pensado entre
um maio e um setembro e moverá o assombro
ao fio de tua anágua.
Revolverás então de um desconserto grande
o mundo que te preenche; uma luz saltará,
em canos, por teus olhos.
E, seguirá a fonte o curso de teu colo
enquanto pássaros haja em voo por tuas veias
e palavras falando do amor em tua boca.
BONECA QUEBRADA
Que me tenta dizer tua deterioração? Vem,
boneca frágil, doente e ferida,
sem grande saias que cubram teu corpo descomposto,
sem uma alma mecânica que te cubra, desastre
dos anos e o trato.
Não me apartei de ti, nos apartaram
convenções e usos: não era próprio querer-te,
e hoje penso que outras mãos te mexeram em excesso.
Tradução do professor José Pires
Sobre María Victoria Atencia
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