... Chartres, mas desta vez
com tuas estátuas feridas,
atravessadas pela fria idade dos nossos pecados distantes,
Chartres sem sinos,
sem raparigas em júbilo sob as tílias
(então eu desejava, de pura alegria, morrer)
Chartres algemada de corvos e ventos do norte
como penhasco no mar,
único raio cruel a ferir
o rosto em lágrimas de um teu pastor —
choveu tempo e sangue sobre ti, catedral
sobre tua pedra serena
como casca — inclusive o Anjo — Meridiana
e o dia escuro como grandes rodas paradas,
o vazio volume de teus arcos,
ao vento leste que escorre lama...
Ó meu jacinto de folhas verdes
a planície esfumada do pranto.
Junho ’52-Setembro ’54
[Cristina Campo, O Passo do Adeus, tr. José Tolentino Mendonça, Lisboa, Ed. Assírio & Alvim, 2002, p. 49].
Annie Bagot |
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