quinta-feira, 4 de abril de 2013

Henriqueta Lisboa

AS COLEÇÕES
Em primeiro lugar as magnólias. 
Com seus cálices 
e corolas: aquarelas 
de todas as tonalidades e suma 
delicadeza de toque.
Pequena aurora diluída 
com doçura, nos tanques.

Depois a música: frêmito 
e susto de pássaro.
As valsas — que sorrateiras. E as flautas. 
As noites com flauta sob a janela 
inaugurando a lua nascida 
para o suspirado amor.

Mais tarde os campos, as grutas, 
a maravilha. E o caos.
Com seus favos e suas hidras, 
o mundo. O mar com seus apelos, 
horizontes para o éter, 
desespero em mergulho.

Com o tempo, o ocaso. As lentas 
plumas, os reposteiros 
com seus moucos ouvidos, 
a tíbia madeira para 
o resguardo das cinzas, 
as entabulações — e com que recuos — 
da paz.

Finalmente os endurecidos espelhos, 
os cristais sob o quebra-luz, 
dos ângulos o verniz, 
o ouro com parcimônia, a prata, 
o marfim dos esqueletos.

(Flor da morte)

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