domingo, 21 de abril de 2013

Maurice Blanchot

Fragmentos de  A Escritura do Desastre,  de Maurice Blanchot
O nome desconhecido, fora de nominação: O holocausto, evento absoluto da história, historicamente datado, essa queima-total onde toda a história se abrasou, onde o movimento do Sentido se abismou, onde o dom, sem perdão, sem consentimento, se arruinou sem dar lugar a nada que possa se  afirmar, se negar, dom da passividade mesma, dom daquilo que  não pode se doar. Como guardá-lo, mesmo que seja no pensamento, como fazer do pensamento aquilo que guardaria o holocausto onde tudo se perdeu, inclusive o pensamento guardião?  Na intensidade mortal, o silêncio fugindo do grito inumerável. 

No trabalho do luto, não é a dor que trabalha: ela vela.

A palavra, quase privada de sentido, é ruidosa. O sentido é silêncio limitado (a palavra é relativamente silenciosa, na medida  em que ela porta aquilo em quê ela se ausenta, o sentido já ausente pendendo para o assêmico).

Que aquilo que se escreve ressoe no silêncio, fazendo-o ressoar por muito tempo, antes de retornar à paz imóvel onde vela ainda o enigma.


Escrever sua autobiografia, seja para se confessar, seja para se analisar, seja para se expor aos olhos de todos, à maneira de uma obra de arte, é talvez procurar sobreviver, mas por um suicídio perpétuo – morte total  enquanto fragmentária.

Escrever-se é deixar de ser para se confiar a um hospedeiro – outrem,  leitor – que não terá doravante por dever e por vida senão a inexistência 
de vocês.

Aprende a pensar com dor. 

A palavra escrita; não vivemos mais nela, não que ela anuncie:  «ontem foi o fim», mas ela é nosso desacordo, o dom da palavra precária. 

Partilhemos a eternidade para torná-la transitória. 

Aquilo que resta para dizer. 

Solidão que irradia, vazio do céu, morte diferida: desastre.
[In Suplemento Literário de Minas Gerais, maio-junho/2010]
  
Tradutor: Eclair Antonio Almeida Filho

Marlon Tenório



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