quarta-feira, 22 de maio de 2013

Lélia Coelho Frota


TALVEZ PENÉLOPE
Ah o amor da Grécia o branco 
imaculado amor das ilhas 
que pervagam no mar violeta
 numa eterna tapeçaria 
a desfazer-se, a refazer-se —
                                             espumas
peixes, sargaços, conchas, abismos,
                                            Ulisses!
Onde viajas, encantado, retido, 
ó esperado desaparecido?

Ó nunca visto, ó viajante rijo
do mar guerreiro, de ondas em riste, onde
teu rosto ignorado persiste?

Na nostálgica superfície 
ecoa um nome, e o edifício 
das águas reboa, desaba 
pelas angras do esquecimento.

Que sereia te seduziu 
para assim me deixares, só, 
na mesa vazia, entre conchas 
murmurejantes?

Ou serei eu a sereia
que se põe entre nós de permeio
e desfaço a a tua chegada 
quando de longe, na amurada 
 vês o meu vestido vermelho 
que a brancura da praia incendeia?

Serei eu quem de ti se afasta 
e que a trama das ondas desata 
quando a meus pés resvala, súplice, 
a marola da tua fragata?

[In Alma & Pétalas, in Poesia Reunida 1956-2006, Rio de Janeiro, Bem-Te-Vi, 2013, pp. 418-419]


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