domingo, 9 de junho de 2013

Murilo Mendes

VELÁZQUEZ
Andaluz e castelhano,
Resume a tensão espanhola.
Entre precisão e força 
Ordena sua paleta.

Eis a pintura.
Eis a matéria do homem a duas dimensões. 
Pintando, Velázquez orienta 
A rígida consciência de Espanha:
Orgullo castelhano de estrutura,
Ligado à língua e ao solo.

Velázquez sabe: pintar é elucidar o espaço
Aberto ou restrito
Pela marcha do pincel consciente.
Velázquez sabe: a cor delimita a forma.
Situando a cor, seu pincel a define:
Suprime a fluidez, a suavidade,
Qualquer elemento opaco ou impreciso.

Suporte da verdade plástica 
É o próprio grupo dos nobres:
Entre o rei e o niño de Vallecas 
A continuidade da matéria enxuta.
A marcha do pincel voluntário
Constrói o homem na grandeza circunscrita:
Sua dimensão é a cor, a forma definida.

Eis o que o distingue dos outros:
Seu DUENDE não é visível 
Como o de Goya, de El Greco.

Entre o minucioso «fantástico» de Flandres 
E o gosto superlativo italiano
A linha castigada e enxuta de Velázquez
Demarca os precisos limites
Onde Espanha se reconhece autônoma.

In Tempo Espanhol, Poesia Completa e Prosa, Ed. Nova Aguilar: Rio de Janeiro, 1994, pp. 599-600

Autorretrato, 1640.
Real Academia de Bellas Artes de San Carlos de Valencia - Valência, Espanha.

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