sexta-feira, 14 de junho de 2013

Renata Pallottini

POEMA
Sei  bem o que fazer 
mas me parece cedo.

Partir com um navio pelo mar roxo e verde 
correr dentro do bojo do navio, esse peixe, 
curtir a pele dos meus dias com muitas tempestades 
e um dia — doce dia — desembarcar num cais.

Sei bem o que fazer 
quando desembarcada.

Buscar por qualquer meio chegar a uma cidade 
depois, por uma estrada, ir até um grande vale, 
e ali olhando a terra e os homens com suas barbas 
esquecer o que fui, beber café, e largar-me.

Sei bem o que fazer 
não me surpreende nada.

Encontrar as pessoas que são novas e velhas 
e comer um punhado de cerejas com elas.
Tomar cerveja ao sol, pensar no avô e no resto 
quando a cidade era suave — quase campo — 
e os delicados lírios floriam na primavera...

Sei bem o que fazer: 
visitar essa terra...

Amar o amor moreno que se desdobra e arde, 
afagar uns cabelos escuros e pesados, 
dormir no fim da rua no desvão de uma casa 
tendo ao meu lado um corpo forte que eu abrace 
e que se agarre a mim com força, que me beije 
como eu tenho beijado as palavras e as frases...

Sei bem o que fazer; 
mas me parece tarde...

[In: Obra Poética, São Paulo, Editora Hucitec, 1995, p. 149]

Modigliani

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