Tudo logo será mais rude no mar
que florescerá com tons mais
sombrios.
Entretanto está assim, sob o dilúvio
do sol por terminar.
Uma ondulação subverte
formas limites já agora abstratos:
toda força decidida diverge
do curso. A vida vai crescendo aos saltos.
E como fosse fogueira sem fogo
que se preparava para claras
senhas:
nesse lume o nosso faz-se pouco,
nessa chama ardem rostos e empenhos.
Desaperta teu coração repleto
no abrir-se de uma vaga;
afunda como pedra de lastro
o teu nome com um baque na água!
Um delírio astral é desencadeado,
um mal calmo e luzente.
Veremos a hora da serenidade
vir-nos talvez pela esfera
ardente.
Encostas sobre nós declinam
de vinhas baixas, em planos.
Respigadoras lá em cima cantam
com vozes desumanas.
Oh a vindima estiva,
a distorção no curso
das estrelas! — de onde em nós deriva
um estupor com laivos de remorso.
Falas e a própria voz não reconheces.
A memória parece-te apagada.
Com o que passaste ainda sentes
a tua vida consumada.
Agora, o que há de ser? — teu peso provas
de novo,
inesperado assenta
nos seus eixos tudo quanto oscilava,
e o encanto não se
sustenta.
Ah aqui hemos de estar, sem diferença.
Imóveis assim. Nossa
voz ninguém
mais escuta. Submersos assim
numa voragem de azul que se adensa.
In Ossos de Sépia, p. 179-181.
GUSTAVE COUBERT |
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