Vi lavandas submersas na tigela do pranto e a visão ardeu em
mim.
Para lá da chuva vi serpentes doentes — belas nas suas
úlceras transparentes —, frutos ameaçados por espinhos e sombras, ervas
animadas pelo orvalho. Vi um rouxinol agonizante e a sua garganta cheia de luz.
Sonho a existência e é um jardim torturado. Diante de mim
passam mães encanecidas na vertigem.
O meu pensamento é anterior à eternidade, porém não existe
eternidade. Gastei a minha juventude diante de um túmulo vazio, extenuei-me em
perguntas que ainda percutem em mim como um cavalo que galopasse tristemente na
memória.
Ainda giro dentro de mim embora saiba que vou cair no frio
do meu próprio coração.
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