Epitáfio para uma jovem
Porque te foi negado o tempo da ventura
teu coração descansa já tão alheio às rosas.
Teu sangue e carne foram teu vestido mais rico
e a terra nunca soube o firme de teus passos.
Começa aqui e acaba tua semeadura
- tal se enterra um vencido no final do combate -,
onde em novembro a água tua ternura embeba
e o latido de um cão tenha voz de presságio.
Tua vida toda quieta sob o tacto da morte,
que sementes domina, cerceando seus gomos,
tu ficaste em botão por abrir, nunca mais
conhecerás o estalido floral da primavera.
[ In Antologia poética, tradução José Bento, Lisboa: Assírio & Alvim, 2000].
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