terça-feira, 12 de novembro de 2013

Ruy Cinatti

PETIÇÃO
— Guarda-me a mim, disse o pescador 
(de arrastão) ao despedir-se
de uma conversa entrecortada a medo, 
em cada um sublinhando elos sagrados.

— Guarda-me a mim, guarda-me tu, irmão, 
que me apertaste o antebraço com força
e leva-me contigo por mares bravios
onde arriscas a vida, a tua sofredora alma e brinca com ela
como se nos amássemos no mesmo chão, juntos.
6/11/76

FEZADA
Eu vi a Cristo num país de assombro 
onde rapazes proclamam alto o Teu nome, 
boca alta, sem nenhum atavio, 
que os leve a jogar ao esconde-esconde.
Eu vi e fiquei pávido, pasmado, 
como ancorado num cais um navio novo 
e dei comigo a cantar — Louvo-te Senhor,
 neste meu país, Portugal de assombro, 
com os três rapazes que Daniel cantou, 
afagando ele a boca aos leões.
E agora procuro-os, penso neles, 
a coisa mais natural do mundo 
e desafio a que me procurem 
onde Jesus andou com as criancinhas, 
os pobres e os privados do seu Nome.
8/7/76

[In 56 Poemas, Lisboa: Relógio D´Água, 1992, pp. 62-63].


Emad Rizk





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