domingo, 15 de dezembro de 2013

Marina Tsvétaïeva

Nós - as crianças, somos os reis 
do mundo das visões nocturnas.
Caem sobre nós as alongadas sombras 
brilham as lanternas por detrás das janelas,
escurece o tecto do salão, 
os espelhos absorvem o seu rasto... 
Não há tempo a perder! 
Alguém sai do canto.

Debruçamo-nos os dois por cima do piano negro
e o medo chega-se a nós, 
embrulhados num xaile da mamã

nem respiramos, pálidos de terror.
Vamos lá ver o que se passa 
por baixo da cortina das trevas inimigas. 
Os rostos deles fundiram-se no escuro, 
-de novo saímos vencedores!

Somos os elos de uma mágica cadeia
e no fragor da batalha jamais desfalecemos.
Aproxima-se o combate derradeiro,

e com ele há-de perecer o reino das trevas. 
Os adultos inspiram-nos desprezo,
pela rotina adormecida dos seus dias...
Nós sabemos, sabemos muita coisa
do muito que eles não sabem.

[Marina Tsvétaïeva in E Cantou como Canta a Tempestade]


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