VISITANDO A CRIPTA DE BURNS
A cidade, o cemitério e o sol poente,
As nuvens, as árvores, as curvas colinas semelham,
Embora belas, frias - estranhas - um sonho,
Que há muito sonhei, e à ele retorno.
O breve pálido verão triunfou
Sobre o calafrio do inverno, por uma hora de esplendor;
Cálidas qual safiras, jamais cintilam as estrelas.
Tudo é fria Beleza; e nunca finda a dor.
Pois quem pode apreciar, sábio como Minos,
A Verdadeira beleza, livre do matiz mortal
Que a imaginação e o orgulho doentios
Te abateram? Burns! Com honra
Muito te venerei. Grande alma, oculta
Tua face; peco contra teus céus nativos.
ESCRITO NA CABANA ONDE BURNS NASCEU
Este corpo mortal de mil dias
Abarca agora, Ó Burns, um espaço em teu quarto,
Onde sozinho sonhaste mirando os louros a brotar,
Feliz, sem pensar em teu dia derradeiro!
Meu pulso aquece com tua própria cerveja,
Minha cabeça leve brinda uma grande alma,
Meus olhos divagam sem vislumbrar,
A Imaginação se esvai ébria em seu intento;
Mas consigo bater meus pés sobre teu chão,
Mas posso abrir uma janela para entrever
O prado sobre o qual pisaste e pisaste, -
Mas posso pensar em ti até que cesse o pensamento, -
Mas posso tragar uma caneca de cerveja em teu nome, -
Oh, sorri em meio à treva, pois isto é fama!
[In Nas invisíveis asas da poesia, tradução Alberto Marsicano e John Milton, São Paulo, Iluminuras, 1998, pp. 55-57].
Sobre John Keats
sábado, 14 de dezembro de 2013
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