Hotel Verenahof Baden (Suíça) 26.11.33
Caro Senhor Thomas Mann!
Há muito queria agradecer e dizer-lhe o quanto sua visita me alegraria. Apenas o cansaço pelo tratamento e a fraqueza dos olhos são responsáveis por não tê-lo feito. Espero que sua esposa volte logo à saúde perfeita, não se pode imaginar uma pessoa de tanta vitalidade enferma! E espero que o senhor ainda possa vir, estarei aqui pelo menos mais dez dias. Lemos ontem a introdução ao seu José. Maravilhosa! Estou encantado e muito excitado com ela. Bom que existam coisas assim!
O poema que mando anexo liga-se à minha neutralidade (tantas vezes atacadas pelos “emigrantes”). Bem, mas ainda falaremos sobre isso.
Seu fiel H. Hesse
(Escrito em Baden, a 20 de novembro de 33, como tentativa de formular alguns fundamentos da minha fé, dos quais estou seguro.)
Divino é o espírito. E eterno.
Ao encontro d’Ele, de quem somos imagem e instrumento,
levam todos os caminhos, e nosso mais íntimo anseio é:
sermos iguais a Ele, brilhar na sua luz.
Mas nascemos de barro, mortais nascemos,
esse peso nos oprime.
Sublime e cálida mãe nos envolve a Natureza,
nos alimenta a Terra, nos abrigam berço e tumba;
mas nem a natureza nos apazigua,
seu encanto de amor é rompido
pela centelha exortadora do espírito paternal,
transformando em homem a criança,
apagando a inocência e despertando
para o combate e a razão.
Assim, entre pai e mãe,
entre corpo e alma,
hesita a mais frágil criatura,
trêmula alma humana, capaz de sofrer
como ninguém mais, e capaz do mais nobre:
o amor que espera e crê.
Duro é seu caminho, morte e pecado seu alimento,
erra na escuridão, e muitas vezes
preferia não ter sido criado.
Mas eterno brilha sobre ele seu destino,
sua missão: o espírito, a Luz.
E sentimos: a esse ameaçado
o Eterno ama com especial amor.
Por isso nós, irmão, errantes,
somos capazes de amar mesmo divididos,
e não é o julgamento ou ódio
que nos aproxima da sagrada meta,
e sim paciente amor, amável tolerância.
Herman Hesse
[In Correspondência entre amigos - Herman Hesse e Thomas Mann, Tradução de Lya Luft, Rio de Janeiro, Ed. Record, sem data, pp. 55-56]
sábado, 18 de janeiro de 2014
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