Sinto o crepúsculo em minhas mãos. Surge através de um loureiro doente. Eu não quero pensar e não quero ser amado, nem ser feliz nem lembrar.
Eu só quero sentir esta luz em minhas mãos
e ignorar todos os rostos e deixar que as canções não pesem em meu coração.
e que os pássaros passem diante de meus olhos e eu não perceba quando sumirem.
Há
buracos e sombras nas paredes brancas e logo haverá mais buracos e sombras e, finalmente, não haverá paredes brancas.
É a velhice. Ela flui em minhas veias como água perpassada por gemidos.
Cessarão todas as perguntas. Um sol tardio pesa sobre as minhas mãos imóveis e minha quietude a ele se une suavemente, como uma substância única, o pensamento e seu desaparecimento.
É a agonia e a serenidade.
Talvez eu seja invisível e solitário sem sabê-lo. De qualquer modo,
a única sabedoria é o esquecimento.
[In Esta luz, Poesía Reunida (1947-2004), Barcelona, Círculo de Lectores, S.A./ Galaxia Gutenberg, 2010]
quarta-feira, 12 de março de 2014
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